Adoro rabanadas. São o meu doce de Natal por excelência. E
gosto delas sobretudo depois das confusões das festas, ao pequeno-almoço, com
um cimbalino bem tirado.
Como se impunha, achava eu, sabia tudo quanto havia para
saber acerca de tão apreciado acepipe natalício. Já tinha visto (e mesmo
experimentado) rabanadas de leite, de leite com água, de calda de açúcar, de
calda de açúcar com canela, de vinho do Porto, de leite de coco, de sumo de
laranja, com passas, com pinhões, com passas e pinhões, com molho, sem molho,
polvilhadas com açúcar e canela, com açúcar mascavado, com tirinhas finíssimas
de casca de laranja ou de limão (a gosto). Ah, isto para já não falar nas
rabanadas douradas autêntico manjar dos deuses que, segundo se consta, sempre
gostaram de se tratar muito bem.
Pois é. Considerava-me uma das pessoas mais conhecedoras,
pelo menos dentro de um círculo relativamente alargado de ignorantes da
culinária, acerca da rabanada. Era uma mulher feliz. Tinha a auto-estima bem lá
para os décimos andares de um edifício relativamente baixo.
Mas eis que ontem, sexta-feira, ao final da tarde, me vejo
confrontada com um novo tipo de rabanada que um amigo, sabendo desta minha
particularidade no que concerne à gulodice, fez o favor de me enviar; a
rabanada poveira. Melhor: a Rabanada Poveira!
Confesso que, quando abri a caixa em que se encontravam, as
olhei com uma relativa desconfiança e tive ainda, mea culpa, aquele momento desdenhoso de quem quer comprar mas não
muito. E pensei então para os meus botões (que não tinha mas a verdade é que
tinha de pensar para alguma coisa e a único fecho que tinha assim mais à mão
era… bom, não tinha nenhum!): tão grossas…. vão ser maçudas… ou então, estou
mesmo a ver, estão impregnadas de colesterol
do mau até mais não… enfim, se eu não conhecia estas por alguma razão
haveria de ser.
Pronto. E aqui estou eu a dar a mão (não confundir com
estendê-la, isso poderia parecer pedir mais) à palmatória. São excelentes! São
cá um pedaço de mau caminho que nem dá para acreditar.
Uma delas (tenho de ser parcimoniosa) constituiu hoje o meu
café da manhã juntamente com o imprescindível cimbalino (Nespresso, de facto.
Evolução dos tempos. Nem sei se ainda há máquinas da la Cimballi). E,
acreditem, não sei se têm leite, se calda de açúcar, se vinho do Porto ou de
qualquer outra proveniência, se banha de cobra ou baba de caracol.
As Rabanadas Poveiras são do melhor que já comi.
Muito obrigada Paula e Luís. Baixaram a minha auto-estima
mas nem imaginam como me amaciaram o palato.
Um beijo.
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