O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quiser dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P’ra sabe que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma, nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
Fernando Pessoa (1888 – 1935)
(Imagem: Rene Magritte "Les Amants" 1928)
3 comentários:
Absolutamente genial, mas outra coisa não se pode esperar de Pessoa.
Este poema é particularmente lindo, na minha opinião, porque traduz na perfeição o verdadeiro amor, aquele que é tão grande que não cabe na voz...
Mil beijinhos com muitas, muitas, muitas saudades!
Eu também o acho particularmente bom.
talvez por ser tão real no que diz e com uma estrutura magistral.
Ola minha querida Sra Donagata :)
É na realidade uma Grande verdade !!!
Absolutamente Fantastico :) !...
Beijo , Anibal Borges .
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