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sábado, 23 de agosto de 2008

"ZORRO, o começo da lenda" de Isabel Allende


Finalmente lá consegui ler este livro que espreitava do monte dos que aguardam leitura, já com ar de uma certa impaciência.

E, novamente, a autora não me desiludiu.

Recria uma lenda, divulgada originalmente de forma clássica, em romance de “capa e espada”, (sobretudo através do cinema) dando-lhe um cariz pós-moderno, pintalgado de humor em dose certa.

E então temos Diego de la Vega, filho de um nobre espanhol residente na Califórnia dos finais do século XVIII, onde convive e se familiariza com os índios locais e as dificuldades que enfrentam. Parte para Barcelona, para uma Espanha que se encontra sob o domínio napoleónico.

É aí que vai desenvolvendo o seu, já apurado, sentido de justiça e, sob a égide de Manuel Escalante, seu mestre de esgrima (entre outras coisas), cria um alter-ego e jura que, sob essa identidade fictícia, irá lutar contra todas as formas de opressão.

O enredo está pejado de todos os ingredientes que fazem parte de um romance clássico deste género: duelos com armas de fogo, coloridos episódios de esgrima, viagens atribuladas pelo mar, assaltos de piratas, fugas no seio de ciganos, sociedades secretas, rituais indígenas, amores não correspondidos, amores que contrariam o estabelecido…

Enfim, uma amálgama tal, que não resistiria certamente a outro escritor que não juntasse aqui as incontestadas habilidades de narradora de Isabel Allende ao seu sentido de humor bem como a uma discreta alegria que se sente na narrativa.

Ajuda também muito ao êxito da história, por um lado a perspectiva feminina da personagem Zorro, um tanto incomum; por outro lado o recurso literário utilizado pela autora mantendo no anonimato, até ao final do livro, o narrador.

Sem ser o melhor livro de Isabel Allende, ou até dos melhores, é, na minha opinião, um livro a ler.

5 comentários:

A.Teixeira disse...

É engraçado como o Zorro começou por ser um catalisador da denúncia das condições deploráveis que vigoravam na colónia espanhola da Califórnia no Século XVIII.

A inércia e inépcia do Sargento Garcia eram a prova da incompetência das autoridades coloniais para corrigir as injustiças, tarefa na qual o Zorro fazia o que podia.

Claro que havia um lado ideológico escondido por detrás deste enredo: toda a incompetência hispano-mexicana acabava por justificar a ocupação da Califórnia que foi efectuada pelos anglo-saxónicos...

Os tempos mudam e as fábulas também... Os hispânicos, em vias de se tornarem maioritários outra vez na Califórnia, recuperaram a figura do Zorro, agora em seu benefício.É nesse espírito que entendo este livro de Isabel Allende.

Já lá vai o tempo em que o Zorro era interpretado por um actor anglo-saxónico usando um bigodinho fino (Tyrone Power em 1940), agora exige-se um hispânico legítimo como Antonio Banderas!

Donagata disse...

E penso que é com esse espírito que ele foi escrito. O Zorro é e será sempre um herói hispânico. Portanto, está mais do que na hora de o fazer nascer das cinzas...

Creio que ainda antes de Tyrone Power, foi protagonizado por Douglas FairbanK, anglo-saxónico as well.
Mas confesso que prefiro um Zorro Banderas. Que queres, sou latina...

Esta obra, segundo apurei, foi encomendada pelos detentores dos direitos de autor do Zorro (a família Gertz) a Isabel Allende a qual começou por ficar bastante incomodada (não escreve livros de encomenda) mas acabou por achar um projecto com interesse após um estudo mais aprofundado de época. Esta obra acaba (não sei se já a leste) onde começam as versões tradicionais; básicamente explica como Zorro se tornou Zorro

antonio ganhão disse...

Ok. Vou inscrevê-lo na lista (interminável) de obras a ler...

fairybondage disse...

Eu sou um pouco suspeita a falar dos livros da Isabel Allende, porque é a minha escritora favorita!!! Por isso já li tudo dela, excepto o último livro que emprestei e ainda não me devolveram! LOl
Este "Zorro", também não é do meus favoritos, mas lê-se muito bem e prende pela forma estruturada e credivel com que a personagem nasce e cresce para se tornar uma lenda!!! Claro que a voz feminina que conta a história também ajuda ao caso!!!lol

Mil beijinhos

Donagata disse...

É também uma das minhas escritoras favoritas desde que li o seu primeiro livro (o primeiro que li, não estou segura que tenha sido o primeiro que escreveu embora julgue que sim), "A casa dos espíritos" que achei riquíssimo em imaginação em história de época, em técnica de escrita... Enfim, adorei. De lá para cá julgo que li tudo quanto ela produziu mesmo os livros para adolescentes que são lindíssimos.