As histórias desenvolvem-se em ambientes rurais e o tema centra-se na velhice (ambiente e tema recorrentes nas obras de José Luís Peixoto que eu conheço). A velhice, sempre tratada com dignidade, com tudo o que tem de belo, a sua experiência, as suas memórias, os seus sonhos, mas também a melancolia, a solidão, o desalento, a loucura, a confusão dos tempos e a morte… a sempre presente morte, quiçá como redenção!?
Contudo não é um livro que trate da decadência física como ponto fulcral. Não, penso que nos leva exactamente noutra direcção e enaltece precisamente o seu contrário. Exemplo disso é a peça de teatro “À Manhã”.
Para quem conhece a obra do autor, este livro não surpreende, é igualmente bom. Utiliza de forma exímia palavras simples mas que nos prendem inteiramente e têm o condão de nos emocionar.
Se tivesse de seleccionar um dos contos, seleccionaria “A idade das mãos”. Um mimo do princípio ao fim. Se fosse uma poesia, seria a seguinte pela sua candura, talvez… ou pelo desconcerto que me provoca…
A gente corremos pelas ruas da vila
O céu das hortas é maior do que
o mundo.
A vila apresenta ruas calcetadas para
homens de sapatinho fino, mulheres
sozinhas e cachopos: eh, cachopo
de má raça.
Vamos aos figos e passamos
a vida:
a vila, às vezes, é desenhada
por esta aragem que é o lápis
de um carpinteiro. Quem é que é
o teu pai?, perguntam os velhos
sentados num banco de jardim.
A gente corremos pelas ruas da vila.
Eu já vi as laranjeiras e as janelas
abertas no verão. Pranta-te quedo,
dizem as velhas de olhos pretos.
Vamos fazer um mandado, vamos dizer
o tempo:
porque a gente corremos pelas ruas da vila
e sabemos quem é a Ti Rosa do Queimado
e ainda não temos cegueira de ser grandes.
Já agora, para quem gosta de poesia, recomendo do mesmo autor, para ir lendo, “A Criança em Ruínas” e a “Gaveta de Papeis”.
2 comentários:
Realmente, tinha razão, este poema merece ser lido :)
Beijinhos e um excelente fim de semana!
Também acho este escritor é muitíssimo bom.
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