Mais um Natal.
Adoro o Natal
mas há sempre uma gota de melancolia
pendurada no cós das luzes,
das cores, dos cheiros, dos sons.
É que são essas luzes,
essas cores, esses cheiros, esses sons
que me levam pelos sulcos do tempo
a espreitar outros natais.
Os natais das tranças feitas pela mãe,
das pinhas a abrir na lareira,
do chocolate quente pela manhã
adoçado pela alegria dos tios,
dos avós, dos pais
todos tão lindos e tão eternos.
E então inquietam-se as palavras
que ficam pequeninas e se prendem nos olhos
- assim como que a espreitar segredos.
São os segredos dos natais de hoje.
Os natais das árvores que já não cheiram a pinho
mas se erguem majestosas
em autênticas explosões de luz e cor,
os natais dos irmãos, dos cunhados,
dos sobrinhos de risos alegres e cheios de futuro,
da mãe que já não faz tranças
e que foi,
paulatinamente,
perdendo a sua eternidade,
dos amigos cada vez mais presentes na lembrança,
como na vida
mas, sobretudo,
os natais que vislumbro no olhar limpo do neto
quando, já tranquila,
lhe afago os caracóis
e lhe vou sussurrando promessas de
“para sempre”.
Celeste Pereira
2022-12-22