Rosa do meu jardim
Sentada no jardim,
rodeada de luz
e de uma largura imensa de tarde de verão,
descanso no devaneio.
Sob as saias brancas da audácia
finjo percursos
e ouso provar o interior da luz.
Abafo os uivos das palavras
que chocam nos dentes
e envolvo-as na ternura tépida da saliva.
Vou criando ecos
que calam o aperto cinzento e amargo
que se arredonda no peito
e emudece a alegria.
Mordem-me as ausências.
Mesmo as que se escondem sob a gentileza das pedras,
sob a ilusão do ainda estar,
do ainda ser…
Tento limpar o sal do dia
que se acumula no rosto claro da tarde e sobra
na lágrima que se desprende do olhar.
Na diáspora das palavras
busco afectos errantes,
noites passadas,
infâncias esquecidas.
E golpeiam-me as palavras
na cadência do sangue.
Crescem as infâncias,
seguro as noites passadas,
tento assear a alegria
e agarro os afectos pela esquina do sopro.
Embrulho-me no devaneio
e, obstinadamente,
quedo-me a ouvir o eco
de todas as palavras nunca ditas.
2 comentários:
Este poema além da excelência literária, das
belíssimas construções imagéticas, ele vai
além quando nos atravessa a alma (enorme emoção),
evocando um sentir tão profundo que viramos o
eco do eco dos sopros etéreos poéticos...
Eu adoro a poesia, fico feliz quando contacto
com a sua grandeza poética que é admirável.
Bravo!
Bjs.
Muito obrigada Suzete. Fico feliz por ter gostado.
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