Fotografia de Maria Manuela Silva
E de novo Abril.
E de novo o céu muito azul, o brilho dos sons, as cores dos
silêncios, as madrugadas serenas e os cheiros doces do espanto que apenas o
tempo desmedido nos traz.
E de novo Abril.
E os verdes, tantos verdes, verdes fininhos como cordéis de
amarrar quimeras, com brilhos de assombro e sopros de memórias desarranjadas
pelas brisas.
E de novo Abril
E os restos de restos de sonhos. E muitas ilusões perdidas
numa penumbra baça apenas com rascunhos de liberdade. E memórias incómodas que
desarrumam o absurdo dos poemas e lhes reorganizam o paradigma. E muitas
vontades amarrotadas.
E de novo Abril
E muitos políticos de plástico com gravatas de plástico,
sorrisos de plástico e palavras medíocres de chumbo muito negro e muito pesado.
Palavras sem som mas com muito frio. E inamovíveis porque cuspidas por lábios
muito frios empurradas por dentes muito brancos e muito perfeitos, também eles
plásticos. Palavras que doem na alma e embrulham as esperanças em cinzas. E
matam as ilusões.
E de novo Abril
Feito quase só de escombros.
Procuro os ténues resíduos de esperança por entre os verdes
fininhos e discretos, os sons coloridos, o frescor das antemanhãs serenas, os
sons cintilantes dos muitos azuis que pintam a primavera.
E enxergo a dignidade na revolta branda, o absoluto das
vontades, o poema sujo de cóleras, o desassossego das metáforas.
É de novo Abril!
2014-04-25
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