Claro que estava curiosíssima acerca deste novo livro de
Zafón que me permitiria revisitar o “cemitério dos livros esquecidos” bem como
personagens maravilhosas que conheci pela primeira vez em “A Sombra do Vento”.
Estava tão curiosa e tão ansiosa que nem esperei pela edição
portuguesa. Li-o mesmo em castelhano que, diga-se de passagem, me dá menos
trabalho do que ler traduções que obedecem ao AO (pelo menos para já, será uma
questão de hábito, espero).
Pois bem, considero que li mais um excelente livro escrito
por um autor de eleição.
Contudo desviou-se um pouco daquilo que eu estava à espera.
Não pretendo com isto dizer que tenha gostado menos do livro
pelo facto de estar escrito num registo visivelmente diferente dos dois
anteriores que compõem, para já, esta trilogia.
Neste romance Zafón forçou muito menos a parte emotiva. Ao
leitor é dada a possibilidade de esmorecer um pouco a tensão com que encara a
leitura. Por outro lado é menos evidente o pendor gótico que tem caracterizado
os outros livros do autor. É muito visível quer nas simbologias utilizadas quer
até na verosimilhança do que escreve.
É um livro em que o presente se reveste de uma importância menor
do que aquilo que nos é contado pelo fabuloso personagem Fermin Romero de
Torres e que diz respeito à sua vivência na prisão no “castillo de Montjuic”
antes de surgir como mendigo em Barcelona. É essa narrativa que nos prende e
que nos leva a compreender melhor alguns aspectos um pouco mais obscuros quer
de “A Sombra do Vento” quer (e sobretudo) de “O Jogo do Anjo”.
O presente, contudo, creio que será um importante factor
para a continuação desta saga. Tudo está em aberto. As personagens ainda mexem… Além disso, este presente ligeiro, até bem-humorado,
é a “almofada” que atenua o exagero emotivo, o tal pormenor literário que dá
algum descanso ao leitor.
Pode-se pensar que, pelo facto de os três livros que refiro
estarem interligados pelos seus personagens, pelas suas vidas, pela enorme
influência dos livros, por vezes estranha, pelo “cemitério dos livros
esquecidos”, só farão sentido lidos na sequência certa.
Ou que não se
entendem lidos em separado.
Nada disso.
Se bem que haja esse entrosamento de vidas e essa
continuidade (e até pormenores que só se vêm a descobrir mais tarde) e que para
todos haja um leit motiv “o cemitério dos livros esquecidos”, cada um é um
romance por si só. Contém uma unidade narrativa com todo o sentido. Podem ser
lidos pela ordem que muito bem entendermos pois estamos sempre a ler muito boa
literatura plasmada em interessantíssimos romances.
Não sei o que esperar do próximo… A verdade é que noto neste
um ponto de viragem. Será para valer???
Mais um que recomendo.
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