Nunca
havia lido nada de Yourcenar o que considero, de certa forma, uma falha na
minha cultura literária. Assim, a conselho de um primo decidi iniciar-me na
autora com as “Memórias de Adriano”.
Pois,
muito obrigada Zé Paulo pelo excelente conselho. É, na minha opinião, um
daqueles livros que não devemos deixar de ler.
Já
se percebeu, naturalmente, que adorei o livro.
Este
romance pretende ser a biografia de Adriano, imperador dos territórios romanos
entre 117 e 138 DC, contada na primeira pessoa.
Através
de uma extensa carta que envia ao sucessor por ele escolhido, Marco Aurélio, Adriano
vai fazendo desfilar toda a sua vida; as suas façanhas heróicas, a sua postura
perante as lides da governação, as suas viagens, o seu gosto pelo mundo
helénico, o carinho e o entendimento conseguido com Plotínia esposa de Trajano mas,
sobretudo, os seus afectos.
Aliás
mesmo os aspectos mais prosaicos da sua vida de imperador são aqui referidos de
uma forma extraordinariamente apaixonada dando aquele vislumbre dos pressentimentos,
das sensações, das impressões, das incertezas que se alojam por trás das
grandes decisões que, geralmente, nos são apresentadas de forma fria, exageradamente
pragmática.
Yourcenar
consegue aliar de forma magistral (se calhar já o deveria saber…) o que o
documento histórico e a ficção têm de melhor.
Se
bem que não deixe de ser um romance com tudo o que lhe é permitido em termos de
ficção de forma a torná-lo excelente sob o ponto de vista estritamente
literário, não deixa de ser um testemunho histórico de rara fidelidade que nos
põe a nu a vida deste príncipe que foi um dos imperadores de excelência do
período do Império Romano.
Satisfaz
inteiramente duas das minhas paixões:
a
literatura, o prazer de ler um livro bem escrito que nos prende pelo simples
prazer de o ler e
a
história se tivermos em conta a forma mais humana, com já referi, de nos
apresentar uma época sem, no entanto, se desviar do rigor histórico em relação
ao qual Yourcenar foi extremamente exigente.
Atestam-no
os cerca de trinta anos que a autora levou a decidir-se pela escrita do livro
bem como a minuciosa investigação a que se dedicou durante todo esse tempo para
o vir a concluir. A edição que li possui um anexo de cerca de quarenta páginas
em que a autora nos explica os vários processos por que passou a escrita deste
livro bem como cita todas as fontes utilizadas para o fazer. E são muitas,
algumas raras e todas de grande fiabilidade.
Se
o não tivesse lido, efectivamente, seria uma mulher intelectualmente mais
pobre.