Mais um livro de ALA que ainda não havia lido. E mais uma leitura interessante e estimulante como já me habituaram as leituras dos muitos outros livros que li do autor.
Este passa-se no ano de 1975. Ano conturbado em termos sociais e políticos, ainda no rescaldo do 25 de Abril.
Fala-nos de uma família decadente, de antigos latifundiários, algures no Alentejo. Família onde reinam o desamor, a ganância, o rancor, a raiva, a cobiça entre os seus elementos. Uma família completamente disfuncional (não é novidade nos livros de ALA) em que os elementos que a constituem se encontram ligados por sentimentos sórdidos que os empurram uns contra os outros mas que, ao mesmo tempo, os impelem uns para os outros prendendo-os numa teia dificilmente compreensível. Pelo menos dificilmente explicável.
Embora a história vá sendo narrada em diferentes tempos e por diferentes personagens dando, de cada uma, o seu ponto de vista de uma mesma realidade, esta passa-se, como já disse, no ano de 1975 durante a agonia e morte do chefe do clã, Diogo.
Diogo, o patriarca duro, prepotente, violento, mulherengo, licencioso, distante, está prostrado, agonizante, no leito de morte enquanto os seus sucessores de digladiam surdamente na mesma casa. A filha e o genro procuram afanosa e desrespeitosamente o testamento, numa tentativa de espoliar os outros membros dos respectivos direitos sucessórios. Tudo isto enquanto a festa da localidade prossegue com os foguetes, a música, as vendas de rua e…a morte do touro pela populaça. Este acontecimento, o auge da festa, altura em que todo o povo se encontra inebriado pelo sangue e pela crueldade gratuita, é também o fim do velho morgado.
Com uma escrita intensa sobretudo sob o ponto de vista de riqueza psicológica das personagens, ALA vai-nos conduzindo através dos sentires de todas as personagens, mas também dos seus mais recônditos podres, dando-nos os instrumentos para compormos o retrato desta família que, sem dúvida, será o retrato muito próximo de tantas famílias burguesas dessa época em que as mudanças sociais se davam com extrema rapidez e a burguesia se sentiu acossada e amedrontada pelo proletariado e campesinato em ascensão.
Não é um livro de leitura linear. Não o são os livros de Lobo Antunes. Não tem como característica, todos sabemos, facilitar a vida ao leitor. Contudo, apesar de não haver sequência temporal nem factual nas diegeses feitas pelos diferentes narradores (neste livro o autor demite-se do papel simultâneo de narrador), não é dos livros mais trabalhosos de ler.
Recomendo.
4 comentários:
Ó Dona Gata,
não sei, não sei... ando algo fraquita de cabeça, e, se diz que não é de leitura linear, acho que não vou dar conta do recado: só sei ler de carreirinha :)
Boas Férias, se for o caso! Por mim já são... agora só em Setembro se houver trabalho.
Quem sabe se, nos "entre-tantos", viro "escritora de blog?". Profissional, claro! Dizem que é profissão... ehh...
Por agora sou só "artesã da palavra" nas palavras que, obviamente, está convidada a ler!
Beijo daqui
Mel
Boa memória
Bj
Este está entre os meus preferidos...
;)
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