De pés bem assentes no lajedo de granito abraço o frio que galga em ondas que se fundem com o outro, o gelo que é meu, que uso escondido sob finas aparências de sorrisos quentes.
Fecho os olhos mas invadem-me mesmo assim imagens absurdas de uma concha granítica retocada de cores em tons pastel com pitadas de dourado, monstruosas velas de imitação, um esquife, flores… e eu.
Procuro alhear-me. Porém, as notas dissonantes de vozes femininas que chocam contra os granitos, os tons pastel, o ouro, as velas de imitação, o esquife, eu… e se elevam em cânticos estranhos que mais parecem vagidos de recém-nascidos, assombram-me. Assustam-me.
E os cheiros, velhos, rançosos, invadem-me o nariz e prendem-se à garganta estendendo gavinhas que me avassalam, me agoniam, me sufocam.
Agonizo lentamente na angústia, no assombro, no absurdo do que não vejo, não ouço, não sinto e não cheiro até ser surpreendida por uma ilusão de calor e humidade numa mão. Sonho, é certo.
Bem devagar abro os olhos e olho. Um pequeno cão, velho como tudo à sua volta, sem tons pastel nem dourados, nem velas falsas, pousado também no granito, lambe-me os dedos e fita-me com os seus olhos velhos.
Ficámos assim. Acordámos ambos do nosso pesadelo.
5 comentários:
Urge agora
não perder o sentido do voo
Sem dúvida, Mar Arável
DonaGata,
Urge que se escreva desta forma, textos com espessura de conteúdo.
E ficámos assim, verdadeiramente encantadas, eu a minha Xiluca, a gata rafeira que habita a minha vida.
Gratidão pela partilha.
Vou linkar o blog. Espero que não veja inconveniente.
Abraço
Mel
mel (nome lindo) obrigada pelo generoso comentário. Claro que pode linkar. É um prazer.
Dona gata, Nadir, um beijo pela beleza das tuas palavras. Espero que dancem gatas e gatos, cães, pavões, passarinhos, patos...... Ao som dos teus trinados.
Julieta lima
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