Todos
deveriam conhecer Abril!
Abril é
mesmo bonito sobretudo quando Abril é em Portugal.
Abril cheira
ao sal das lágrimas que se penduram pelos bicos, nas pontas das folhas ébrias
de verde e brincam ao sabor das diabruras da brisa.
Cheira ao
som das cores de todas as borboletas que pousam em todas as flores que cheiram
ao seu próprio voo.
Abril sabe
bem.
Sabe a
chilreios de aves livres que se passeiam livres por céus de um azul muito livre
e muito límpido e muito fresco.
Abril tem
muitas imagens de guardar memórias.
Imagens lindas
como cravos vermelhos, rostos felizes, dedos em “vê”, pessoas na praça, muitas
pessoas na praça, olhares de esperança, sorrisos de quem confia…
Mas Abril,
às vezes, cada vez mais vezes, também tem chuva, dias tristes, cores de
desesperança, cravos de fazer de conta, “grândolas” desafinadas, olhares
cinzentos, bocas sem sorrisos, ou se sorrisos, de esguelha, não sorrisos, crispações,
mãos erguidas em punhos bem cheios de revolta e dor.
E passeiam
na praça eunucos incompetentes, muito bem vestidos, muito bem falantes, de
sorrisos resplandecentes que estragam Abril. Que lhe tiram o viço, o cheiro bom
das coisas boas. Que calcam as flores no minuto antes de voarem e assustam as
aves e matam as borboletas porque, sem o voo das flores, já não vale a pena
viver.
E há menos
pessoas nessa praça onde sobejam os tais eunucos inábeis, muito menos pessoas
na praça e muito mais desalento, muita, mas muita saudade da cor da voz das
pessoas que afinavam cantando a “Grândola” quando a Grândola tinha o sabor, a
frescura e a limpidez do azul da Liberdade.