quinta-feira, 29 de setembro de 2011
“Ilha Teresa” de Richard Zimler
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
De António Nobre
Dizendo um pequeno excerto de "Viagens na minha Terra" de António Nobre da obra "Só" muito bem acompanhada pelo Pedro Lopes ao piano e pelo Miguel Motta na voz.
Nota importante:
Porque percebi que algumas dúvidas se colocaram nos espíritos dos mais atentos, cumpre-me informar que não, não me encontrava ajoelhada... O Miguel é que é mesmo assim, daquele tamanho.
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
A gata branca
Era uma gata belíssima aquela que me apareceu no caminho logo no primeiro dia em que, da área da piscina, me dirigia ao meu quarto.
Estranhei a sua magreza. Contudo mantinha um porte altivo, uns olhos brilhantes que pediam algo. Dirigi-me a ela com palavras doces mas a gata branca, imaculadamente branca, embora não fugisse, não confiava. Ia-se aproximando mantendo bem alerta todas as suas defesas. E o seu olhar pedia algo. Fui ficando por ali conversando com ela, sentada no chão, numa tentativa de me aproximar. Gostaria de a acariciar. Não consegui.
Quando estávamos apenas as duas, entendi o desespero daqueles olhos. De sob o passadiço de madeira onde ambas nos encontrávamos, começaram a surgir, se bem que muito desconfiados e sempre prontos a esconderem-se, seis lindos gatinhos pequeninos. Os seus filhos! Eram ainda mais pequenos do que a provável idade lhes imporia pois estavam, também eles, magríssimos.
Fui buscar uma tosta mista que tinha pedido para o almoço e, partindo-a aos bocadinhos pequenos, deixei-lha para que comessem. Devoraram-na sofregamente sob os olhares atentos daquela gata branca que apenas comia aqueles que lhe colocava na sua frente e não os que lançava para junto dos filhos, um pouco mais longe.
Era uma cena de ternura aquela que eu presenciava se bem que embrulhada numa enorme nuvem de tristeza.
Sempre que pressentiam alguém os pequeninos escondiam-se assustados e a mãe, embora não fugisse, sempre elegante e altiva, deslumbrante na sua brancura, mantinha uma distância segura de quem passava.
Tive que ir. Não queria passar o meu primeiro dia de férias sentada num passadiço de madeira a olhar para algo que me arrefecia o ânimo.
Não sabia qual a política do hotel em relação à permanência de animais nos seus vastíssimos espaços exteriores, mas a magreza e o temor revelado por aqueles sete animais não prenunciava nada de bom.
O melhor seria mesmo manter silêncio acerca deles.
sábado, 3 de setembro de 2011
Crónica de uma saudade anunciada
Primeiro foram aqueles tempos sem tempo em que os dias passavam por mim (ou seria eu que passava por eles?) sem que, verdadeiramente, as horas se distinguissem. Tempos em que as horas me prendiam e se enredavam e me enredavam, e me atrapalhavam, e se confundiam e já nem eram horas de tão enredadas…
Além disso havia aquela névoa familiarmente estranha que me turvava o pensamento, o sentir, impelindo-os para dentro, sempre para mais adentro, ali bem para aquele local onde se arquitectam todas as mágoas.
Seguiram-se tempos de incertezas: Aquilo que hoje era, amanhã era-o também apenas com um subtil aroma de dúvida. Tudo que hoje mais queria, amanhã já não desejava, tinha-lhe até medo. Todas as emoções que hoje me ardiam se quedavam extintas no mais logo do amanhã.
E assim se foram desenrolando uns tantos hojes e ontens ainda recentes, nos quais se sonhavam os já saudosos amanhãs.
Finalmente as certezas. Irias partir! Irias perseguir o teu futuro bem presa na força da tua vontade. Irias voar nas asas da tua coragem. E viverias outros ontens, outros hojes e sonharias outros amanhãs que não aqueles que eu costumava partilhar contigo.
Mesmo assim, mesmo presa nas escamas da saudade, estarei orgulhosamente, hoje, a torcer para que todos os teus amanhãs sejam tudo aquilo que de mais belo imaginaste.
Por vezes amar dói tanto!
Nova Iorque, 18 de Julho de 2011