Pois bem. Hoje, porque está mais um dia de calor acordei a pensar como seria viver no Sahara. É verdade. Dá-me assim para estas coisas vá-se lá saber porquê.
Ora, nada melhor para explorar um assunto do que falar com ou dos seus especialistas. Por isso hoje decidi falar acerca dos Garamantes.
E quem eram os Garamantes? Perguntarão os mais distraídos.
Aparentemente e juntando umas coisitas de que ainda me lembrava com outras que procurei para não sair uma grande asneirada uma vez que apenas pretendo efabular ligeiramente e não permitir-me a grandes desvios, tratou-se de um povo descrito quer por historiadores (Heródoto, por exemplo) quer por viajantes (Alexandre e os seus emissários…), que , há muuuuuiiito tempo (foram atacados pelo proconsul de África, Cornélio Balbo nos anos 21 e 20 a.C. a mando de Caius Iulius Caesar, vulgo Júlio César, ou teria sido Marco António? Bom, não interessa! Muito tempo, portanto.) habitou a África sahariana.
De origem berbere o povo Garamante estabeleceu-se, desde tempos imemoriais (diz-se que durante o primeiro milénio antes da era cristã) na área de Fezan e construiu, apesar das condições climatéricas adversas, um reino que constituiu a única entidade política sólida, reconhecida e prestigiada, no deserto sahariano entre o Egipto e a costa atlântica.
A sua capital era Garama e, daí, o rei controlava um extenso número de tribos que se espalhavam por um também extenso, se bem que desértico território salpicado de alguns oásis.
Embora considerado pelos romanos um povo de guerreiros do deserto, as evidências arqueológicas mostram-nos algo diferente.
Revelam-nos um povo adaptável às condições que se lhe ofereciam, próspero, que dependia, essencialmente, da agricultura.
Diz-se que também do comércio de bens que transportavam entre a Líbia e o Mediterrâneo. Contudo esta teoria não tem grande suporte em termos de documentação histórica ou de vestígios arqueológicos. Baseia-se apenas naquilo que, séculos mais tarde, aconteceu com os povos muçulmanos que aí se instalaram.
Sabe-se, porém, que cultivavam quase todo o tipo de cereais, vinha, oliveira, palma, algodão e vegetais. Desenvolveram também capacidades como o fabrico de cerâmica, metalurgia, vidro, extracção de sal e de pedras semi-preciosas.
Se é certo que esta zona, agora tão árida, o seria bastante menos no dealbar da era cristã, a verdade é que este povo construiu um sistema de irrigação, baseado em poços e condutas subterrâneas digno da mais moderna engenharia.
Procuravam lençóis de água subterrâneos e, a partir deles, canalizavam a água por um elaborado sistema de túneis, até onde necessitassem dela. Neste sistema conhecido por
foggara os túneis iam tendo uma cota cada vez mais baixa do que a do lençol de onde provinham e a água era “empurrada” pelo próprio desnível.
Gente esperta! É que nem aquele sol todo a queimar a moleirinha lhe retirou ou afectou os neurónios…
Com este sistema, apesar da terra à sua volta ir secando cada vez mais, conseguiram aguentar uma evidente prosperidade julga-se que, pelo menos por mais um milénio…
Mas, tudo tem um mas, como os recursos hídricos não são eternos, também estes lençóis de água acabaram por esgotar e, com eles, a prosperidade evidenciada por este povo.
É até provável que, quando os romanos lá chegaram e, com dificuldades, acabaram por conquistar este povo, ele já não fosse mais do que uma pálida sombra do que tinha sido séculos atrás. Julga-se que os recursos hídricos terão esgotado próximo do final da era a.C. e, assim, serem descritos apenas como povos guerreiros do deserto…
E, tenho dito embora muito mais houvesse a dizer sobre este povo. E outros, claro. Só que agora não me apetece.