Então, resolvi lê-lo, ou relê-lo se dele viesse a encontrar memória.
Li-o ontem enquanto me resguardava do mau tempo à conta de uma estúpida constipação que tem tanto de desagradável como de inoportuna. E, seguramente, li-o pela primeira vez. Excelente! Não é um livro que se esqueça. É profundo, deixa marca, aliás como os outros que conheço do autor.
Muito centrado no eu e numa evidente obsessão do autor pela inevitável degradação física que culmina na própria morte cortando assim, de forma absurda, a promessa de imortalidade que sente; “a consciência da sua infinitude limitada”.
O livro desenrola-se em dois (talvez três) planos de ficção, em espaços distintos: a praia, o escritório e (talvez), a aldeia (a casa dos pais e a sua no monte). Iniciam-se separados mas vão-se interligando, entretecendo uma trama em que se fundem inteiramente e se tornam difíceis de distinguir as oscilações entre a imaginação e a recordação. Talvez a única coisa que nos ajude a distinguir o real do sonho seja a presença da figura da mulher; a sua, Helena, ou a sonhada, Hélia.
Ou então também pode ser que tudo não passe de um plano só em que só o sujeito se narre a si mesmo e tudo o resto seja apenas o intrincado dos seus sonhos, das suas realidades lembradas, das suas realidades sonhadas e, fundamentalmente, dos seus medos.
Seja como for, é um poema fantástico que se desenrola ao longo destas duzentas e quinze páginas de excelente prosa.