
Finalmente respirei fundo e lá tomei alento para ler “O Arquipélago da insónia” de António Lobo Antunes que, há já uns tempos, aguardava a minha leitura.
Começo já por dizer que, embora não aprecie particularmente a imodéstia, a presunção conscientemente assumida do autor, não posso, confundir essa sua característica com a sua qualidade como escritor.
Pois bem, devo dizer que gostei bastante do romance (se de romance se trata e não quero nem tenho condições para entrar nessa polémica. Nem tampouco acho que tenha qualquer importância. É uma mera questão formal).
Lobo Antunes centra-se numa personagem, um autista, e através de um discurso narrativo permanentemente fragmentado, sem atender a sequencialidades temporais ou semânticas, a relações de causa/efeito, misturando o real com a ilusão, o presente com o passado, colocando os vivos a dialogar com os já mortos, vai-nos desfiando a história de três gerações de uma família rural, provavelmente ribatejana, desde a sua ascensão (com o avô como o patrão prepotente e poderoso) até à sua queda total. O nada que o neto recebe.
Este é o registo da maior parte do livro.
A parte final muda um pouco e é então aí que o autor coloca as outras personagens a transmitir a sua visão dos acontecimentos.
É também quando tudo acaba por se encaixar e se abrir na nossa frente um exercício profundo de linguagem em que o enredo (pois subsiste uma história) serve apenas como pretexto para a recreação com as palavras que parecem ter vida própria e se escapam, irreverentes, às leis da linearidade.
Como se infere do que acabo de escrever não é um livro fácil. A intenção, no meu ponto de vista, também não é sê-lo. Por vezes é necessário reler trechos ou até capítulos para conseguirmos apanhar, sobretudo, a totalidade da magia das palavras bem como possíveis sentidos que nos escapem numa leitura mais desatenta.
Contudo, devo dizê-lo, é algo que se faz com imenso prazer. Aliás uma segunda leitura não está fora de questão.
Recomendo vivamente para quem tiver paciência para fazer da leitura um exercício de atenção.
Olá. Gostei muito do seu comentário ao livro e acho que ficaria muito bem entre outras opiniões em espaço próprio no site do escritor - www.alanletras.com. É um comentário conciso e acertado, e é deste tipo de opiniões que procuramos para o nosso site. Caso de oponha à publicação integral do seu artigo no site por favor responda para alawebpage@gmail.com. O artigo será citado com link para este blogue e, obviamente, com a identificação do seu autor. Obrigado.
ResponderEliminarNão tenho qualquer problema em que esta minha opinião seja publicada no referido site desde que, como especifica, seja feito o link para este blog. Fico até muito satisfeita por entenderem que a minha opinião está minimamente aceitável e capaz de figurar a par de outras naturalmente mais avalizadas.
ResponderEliminarMuito obrigada.
O quanto eu adoro estas suas respostas ... sempre tao cirurgicamente acertivas !... :)
ResponderEliminarBeijo .
cirugicamente acertivas... não se o que hei-de pensar disto.
ResponderEliminarParabéns dona gatita. Apesar de não preceber nada da litratura, ah pois!
É verdade. veja só quanto estes senhores andam distraídos!
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