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terça-feira, 22 de março de 2016

E todavia

  Fotografia de Ana Borges (Margaretta Gomez) 

Tento escrever um poema.
Hoje é dia da poesia, dizem
e lá fora já é Primavera.
Mas as palavras
surgem cingidas e tristes
e criam novelos de um desespero nu e salgado
que se prende ao avesso das horas.
Ou surgem como pequenas limalhas finas
inconsistentes
sem enfeites
sem transgressão.

E, todavia, é Primavera, dizem

E a vadiagem dos olhos
diz-me que há flores que esbracejam
asas que sussurram
e uma luz nova talhada no assombro
que me entardece o olhar.

É Primavera, dizem

E mais uma vez
as palavras se quedam ao rés do soluço.
Flutuam no colo do tempo
acrescentando novas distâncias

e o poema é apenas penumbra.



2016-03-21

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