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sábado, 14 de agosto de 2010

“O Manual dos Inquisidores” de António Lobo Antunes


Terminei hoje.
Já lhe sinto a falta. Sinto a falta, creio, da intensidade das personagens. Da forma como irremediavelmente sou agarrada e conduzida ao âmago de si (por vezes de mim também). Da forma como me vão revelando os seus segredos mais obscuros, os seus medos, os seus desamores, as suas perversões, também as suas alegrias, os amores… Mas a verdade é que ALA é magistral na construção de personagens de cariz mais obscuro. Conhece e explora, literariamente, os meandros da mente humana de uma forma inacreditável.

Mais uma vez a “história” nos vai surgindo fragmentada em tempo e espaço. Mais uma vez se entrelaçam, nos relatos das personagens (curiosamente o livro está estruturado em capítulos que tomam o nome de “relato” e/ou “comentário”) os vários presentes e os vários passados nos diferentes espaços. Mais uma vez vamos sendo conduzidos na construção do enredo final. Mais uma vez me encantam as nuances de uma escrita que percorre toda uma escala de registos do mais poético, quase musical, ao mais prosaico, mais popular, mais simples.

Como disse, já tenho saudades o que evidencia o prazer que tirei do livro. É redundante dizer que gostei.

Porém, neste “Manual dos Inquisidores”impressionaram-me sobretudo dois aspectos.
Por um lado o sarcasmo desmedido, cáustico, que encontrei nos relatos mais “naif” do livro. Rescendendo ingenuidade, são demolidoras as conversas acerca da “caridade” para com os pobrezinhos, os empregados, todos aqueles que se encontram numa escala social menos favorecida;
A indiferença,… Não! A naturalidade com que é abordada a tortura mais cruel nas mais cruéis prisões. Como tudo era fruto de humores de seres sem escrúpulos que exerciam arbitrariamente os poderes do Poder. E, mormente, lembrar-me, saber, que muito se passou assim…
O outro aspecto é recorrente. É a dificuldade imensa que todas as personagens têm em soltar as suas emoções sem as mascarar, sem as rodear, sem as disfarçar, sem as corromper. Isto mesmo até ao final…
Fantástico!
2010-08-10

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