Para ouvir e se deliciarem, ao mesmo tempo que podem ler este belíssimo poema de António Gedeão. Um dos que direi logo na sessão da Poetria no café Progresso.
Poema da malta das naus
Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
In Teatro do Mundo, 1958
Li. Não ouvi, mas li, para minha punição.
ResponderEliminarhttp://www.vinteequatrodeagosto.blogspot.com/
ResponderEliminarbonito poema ... será que me estenderia sua mão agora que estou medicado e me acolheria de novo no doce abraço dos seus comentários?
ResponderEliminarO MEU TRAVO É INDIGENTE
COMO-ME E CAI-ME MAL
FAÇAM-SE DEPRIMENTES
COURATOS DE PORTUGAL
Lindo!
ResponderEliminarEla toca mesmo bem!